terça-feira, 27 de abril de 2010

"ELEGIAZINHA"


Ela também,Nivaldete,é da confraria dos felinos.Obrigada Deta pelo poema postado nos comentários.VEJAM QUE BELEZA:

"ELEGIAZINHA"

[i. m. nikita (gata da Inês)]


Gatos não morrem de verdade:
eles apenas se reintegram
no ronronar da eternidade.

Gatos jamais morrem de fato:
suas almas saem de fininho
atrás de alguma alma de rato.

Gatos não morrem: sua fictícia
morte não passa de uma forma
mais refinada de preguiça.

Gatos não morrem: rumo a um nível
mais alto é que eles, galho a galho,
sobem numa árvore invisível.

Gatos não morrem: mais preciso
- se somem - é dizer que foram
rasgar sofás no paraíso

e dormirão lá, depois do ônus
de sete bem vividas vidas,
seus sete merecidos sonos."

Nelson Ascher

FONTE:
http://poesiailimitada.blogspot.com/search/label/-%20Poesia%20brasileira

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Apenas goste de mim


Apenas goste de mim. Me sorria discreto quando todo o resto do mundo não estiver olhando. E me sorria também quando todo mundo olhar, com um jeito de quem faz piada interna, pra que eu me sinta mais importante que o resto.Goste de mim mesmo de óculos e cabelo preso pra cima, goste de roupas específicas do meu guarda roupa. Goste das minhas palavras, do meu jeito criativo de elogiar, das minhas menores ou mais elaboradas declarações de amor. Não aceite todos os meus depoimentos, mas não tenha coragem de apagá-los.Goste das coisas que eu não gosto no meu corpo, adore as que eu já aprendi a gostar. Guarde as minhas mãos nas suas com cuidado, segure meus pulsos como se fossem realmente frágeis, mas me aperte com força me puxando pelos cabelos como se quisesse se fundir em mim. Me deseje em momentos inoportunos, me leve embora no meio da festa só porque não pode esperar mais. Me entenda sem palavras, me repreenda em silêncio de vez em quando, porque no fundo eu preciso sentir que pertenço a alguém. Goste das minhas piadas e incorpore-as ao seu vocabulário. Faça as suas.Goste de música. Pelo amor de Deus, goste muito de música, entenda de música e tenha bom gosto. Toque violão, guitarra, baixo, bateria, qualquer coisa. Goste de Los Hermanos, mesmo que não assuma. E goste da minha voz, principalmente quando eu cantar baixo e só pra você.Goste de me olhar. Dançando, lavando louça, lendo, bebendo, falando. Me desconcerte com esse olhar insistente. Procure as minhas mãos por debaixo de mesas e cobertores.Seja meu maior cúmplice. Ame a minha vitrola e meu carro velho, meus óculos vermelhos, meu cabelo. E goste também dos meus silêncios, ou pelo menos entenda-os.Me compre doces, respeite minha TPM, enxugue minhas raras lágrimas. Beije meus muitos sorrisos.Goste dos meus amigos mas saiba enxergar os defeitos deles. Respeite. Goste dos meus pais e de quem estiver com eles. Mas fique sempre do meu lado.Goste de mim do jeito que eu sou e do jeito que vou me tornando a cada dia. Goste de mim, com doçura, com força, com sinceridade. E só.

Texto sem título de F. Reis, que escreve no Ventura

domingo, 18 de abril de 2010

Lady Laura 2


Lady Laura

Tenho às vezes vontade de ser
Novamente um menino
E na hora do meu desespero
Gritar por você
Te pedir que me abrace
E me leve de volta pra casa
E me conte uma história bonita
E me faça dormir
Só queria ouvir sua voz
Me dizendo sorrindo
Aproveite o seu tempo
Você ainda é um menino
Apesar de distância e do tempo
Eu não posso esconder
Tudo isso eu às vezes preciso escutar de você

Lady Laura, me leve pra casa
Lady Laura, me conta uma história
Lady Laura, me faça dormir
Lady Laura

Lady Laura, me leve pra casa
Lady Laura, me abrace forte
Lady Laura, me faça dormir
Lady Laura

Quantas vezes me sinto perdido
No meio da noite
Com problemas e angústias
Que só gente grande é que tem
Me afagando os cabelos
Você certamente diria
Amanhã de manhã você vai se sair muito bem
Quando eu era criança
Podia chorar nos seus braços
E ouvir tanta coisa bonita
Na minha aflição
Nos momentos alegres
Sentado ao seu lado, eu sorria
E, nas horas difíceis
Podia apertar sua mão

Lady Laura, me leve pra casa
Lady Laura, me conta uma história
Lady Laura, me faça dormir
Lady Laura

Lady Laura, me leve pra casa
Lady Laura, me abrace forte
Lady Laura, me faça dormir
Lady Laura

Tenho às vezes vontade de ser
Novamente um menino
Muito embora você sempre acha que eu ainda sou
Toda vez que eu te abraço e te beijo
Sem nada dizer
Você diz tudo que eu preciso
Escutar de você....
(ROBERTO CARLOS)

Lady laura


Homenagem do blog a mãe do rei que ontem foi para o andar de cima.Tinha 96 anos de idade,foi uma das pessoas que mais influenciou e deu força para o Rei na sua carreira.Hoje faço questão de ser piegas,brega assumida já sou há tempos,é que o universo que envolve Roberto me toca de perto,mexe nas minhas raízes,suas canções faz parte da minha trilha sonora afetiva ao longo de toda minha vida.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Mário Bortolotto


Eu moro sozinho. Eu durmo numa rede. Sozinho. Eu ando sozinho por aí. Também ando acompanhado. Mas nem sempre me sinto sozinho. Só às vezes. Sozinho ou acompanhado. Eu aprendi que a solidão é algo que eu carrego dentro de mim. Solidão não é descer a Rua Augusta sozinho de madrugada, admirando as garotas na calçada. Solidão não é atravessar as ruas totalmente bêbado, descer as escadas do Gruta e não encontrar ninguém pra jogar bilhar, e ficar dando voltas em torno da mesa girando um taco imaginário. Solidão talvez seja ouvir as bolas caindo na caçapa. Solidão não é uma casa no meio da neve. Solidão talvez seja minha avó contando histórias de assombração. Um garoto de doze anos chorando sozinho numa cama com saudades de casa. Solidão não é ter o telefone desligado na sua cara. É você ouvir notícias de um país distante num rádio velho. O que eu quero dizer é que há pilhas de romances e poemas sobre a solidão. E você acha que eu nunca sinto medo? Eu penso em Hemingway com a espingarda na boca e Silvia abrindo o gás. Estamos chegando perto demais? O velho bêbado apaixonado pela garota de 23 anos e sonhando em fugir com ela pra Las Vegas. Existe algum outro tipo mais cruel de solidão? Não estou vaticinando meu fim. Estou sussurrando em seu ouvido um segredo. Você faz o que quiser com ele. Pensa bem se isso também não é solidão. Saber é solidão. Não é você ser abandonado no meio do mar. É você ter consciência num navio de bêbados. Não é uma tempestade sobre a cruz no Gólgota. É aquela cidade onde o sol nunca se põe. A solidão não é uma senhora de capuz parada na beira da estrada. Talvez seja o padre vociferando no púlpito. A solidão é um show de rock and roll e a garota gordinha modernete e cheia de opiniões e que vai voltar sozinha pra casa enquanto sua amiga burra e linda ficou com o guitarrista da banda. Não é o sujeito no caixão com as mãos em torno do rosário e o nariz entupido de algodão. Isso não é solidão. A solidão é o velório que sempre foi uma piada triste. A solidão é a passagem dos dias. A solidão não é um blues de Corey Harris. A solidão é o carnaval. A solidão é um farol. Eu apenas me deixo guiar. A solidão vai durar eternamente. O dia que eu sentir que não pode mais ser assim, juro que dou um jeito nisso. Ou então como diria o último boy scout, eu arrumo um cachorro. (mário bortolloto)

terça-feira, 13 de abril de 2010

Elizabeth Bishop


Uma cadela no Carnaval

Elizabeth Bishop





CADELA ROSADA

[Rio de Janeiro]

Sol forte, céu azul. O Rio sua.
Praia apinhada de barracas. Nua,
passo apressado, você cruza a rua.

Nunca vi um cão tão nu, tão sem nada,
sem pêlo, pele tão avermelhada...
Quem a vê até troca de calçada.

Têm medo da raiva. Mas isso não
é hidrofobia — é sarna. O olhar é são
e esperto. E os seus filhotes, onde estão?

(Tetas cheias de leite.) Em que favela
você os escondeu, em que ruela,
pra viver sua vida de cadela?

Você não sabia? Deu no jornal:
pra resolver o problema social,
estão jogando os mendigos num canal.

E não são só pedintes os lançados
no rio da Guarda: idiotas, aleijados,
vagabundos, alcoólatras, drogados.

Se fazem isso com gente, os estúpidos,
com pernetas ou bípedes, sem escrúpulos,
o que não fariam com um quadrúpede?

A piada mais contada hoje em dia
é que os mendigos, em vez de comida,
andam comprando bóias salva-vidas.

Você, no estado em que está, com esses peitos,
jogada no rio, afundava feito
parafuso. Falando sério, o jeito

mesmo é vestir alguma fantasia.
Não dá pra você ficar por aí à
toa com essa cara. Você devia

pôr uma máscara qualquer. Que tal?
Até a quarta-feira, é Carnaval!
Dance um samba! Abaixo o baixo-astral!

Dizem que o Carnaval está acabando,
culpa do rádio, dos americanos...
Dizem a mesma bobagem todo ano.

O Carnaval está cada vez melhor!
Agora, um cão pelado é mesmo um horror...
Vamos, se fantasie! A-lá-lá-ô...!

1979

domingo, 11 de abril de 2010

Paulinho da Viola


composição: Paulinho da Viola

Silêncio por favor
Enquanto esqueço um pouco
a dor no peito
Não diga nada
sobre meus defeitos
E não me lembro mais
o que me deixou assim
Hoje eu quero apenas
Uma pausa de mil compassos
Para ver as meninas
E nada mais nos braços
Só este amor
assim descontraído
Quem sabe de tudo não fale
Quem não sabe nada se cale
Se for preciso eu repito
Porque hoje eu vou fazer
Ao meu jeito eu vou fazer
Um samba sobre o infinito

quarta-feira, 7 de abril de 2010

E não era mentira



E ela esperou e esperou e esperou que a chuva cessasse, que o dia amanhecesse, que o sol abrisse. No peito a paz e a guerra, o medo e o vão, o pulo e o chão, o ar e o aço, esta contradição de felicidade aterrorizada que têm sempre todos os seus começos. A noite lhe trouxe de volta o abraço dos irmãos em sonho, um avô que acenava de longe de partida para a pescaria, a voz do pai, o cheiro da casa da avó, a mãe dividindo com ela uma omelete de batata frita. E mesmo em sonho ela soube, bem lá no fundo de si, antes de qualquer coisa, antes da primeira claridade do dia, que a vida recomeçava mansa e ainda débil, recém parida. E veio a manhã, tímida e cinza, úmida e com cheiro de plantas, cheia de pássaros e sons de dia. A chuva parou e o sol irrompeu quente e grandioso e tomou a vida nova nos braços. Ela abriu os olhos e fitou a paisagem por muito tempo. Queria ter certeza de lembrar desse momento para sempre.
(Ticcia)