quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Sem perder a ternura



Linaldo Guedes

letargia que invade as avenidas do XXI
terra sem lei, com fardas dormindo igual aos fardões

cabeças baixas, bolsos vazios, pés descalços
maiakovski apenas como um poema desbotado na estante
patrulhas cercando o quintal do vizinho

: a nova ordem não vem de caetano,
veloso de todos os sonhos que fugiam do haiti

silêncio, é a palavra que barulheia todos os sentidos

mas as damas aristocráticas formam vassalos
na terra onde o verde quase se torna uma lembrança vã
e ainda dizem que existe o amanhã
e eu acredito
como acredito no gosto estranho da romã

vejo, na retina da memória, soldadinhos de papel
crianças correndo por ruas de barro
brincando e gingando para as dores que não conhecia
é verão – hora de lembrar lições guevarianas:
não podemos perder a ternura!

(poema inédito)



Escrito por Linaldo Guedes

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