sexta-feira, 30 de março de 2012

Cascudo por Veríssimo de Melo


Veríssimo de Melo

Eu trabalhei muitos anos no jornal A República, ficava quase vizinho à casa de Cascudo. E achava estranho, todo dia, às duas horas da tarde, ele saía de casa, paletó, gravata, chapéu, charutão no bico, sozinho, em direção à Ribeira. O que é que Cascudo vai fazer todos os dias, duas horas da tarde, lá pra Ribeira, bairro comercial nosso? Um dia vou seguir Cascudo, pra saber o que faz.
Certo dia eu o segui. Ele atravessou a rua Doutor Barata, conversando com um com outro, abraçando um e outro, finalmente dobrou a avenida Tavares de Lyra e entrou num barzinho, um barzinho vagabundo. Eu tive até certo acanhamento de entrar. Demorei um pouco, finalmente tomei coragem e entrei: ele estava sentado na cabeceira de uma mesa, ao lado uma garçonete, e do outro lado um motorista da praça, todos os três tomando cerveja. Eu disse:
- Mestre, o que está fazendo aqui?
- Você num está vendo, meu filho, estudando costumes.

Depoimento de Veríssimo de Melo sobre Câmara Cascudo.

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