segunda-feira, 6 de maio de 2013

A solidão do vasto mundo




Por Luis Estrela de Matos

Não sei quantas faces tem um poeta, mas sei quantos poemas têm numa faca. Eu sei. E João Cabral também sabe. Sei que os poemas são misteriosos e exibem estranhas faces aos leitores, avisados e desavisados. Distraídos, venceremos, dizia o Leminski mais sabreamente zen. Há que aguçar, há que cortar. Quem nunca se cortou com a verdade não sabe a verdade do sangue. Mas as faces me espreitam, me vigiam, e realmente precisarei de um anjo torto, completamente torto, vivendo na sombra e em silêncio, pensando um vermelho de Gogh, tão completamente vermelho, que chega a ser vão. Há que se ser vão no desvão da matéria. Mas Drummond queria uma tarde azul, embora soubesse que os desejos são rubros. E os bondes e as pernas passam diante de olhos brancos, pretos e amarelos e no meio de tudo Deus, e pernas e a pergunta Dele no meio de tudo, inclusive, sim, meu atento leitor, no meio do caminho e das pedras. O coração de um poeta sempre pergunta e os versos costumam ser dolorosas dúvidas, rimantes ou destoantes, ou até concretamente materiais. Os olhos não perguntam mais nada e Deus não olha mais as pernas ao entreolhar o homem que nelas se esqueceu entreolhando o vasto mundo de Raimundo sozinho, sozinho como o mundo em forma de coração, de um coração a nu, de uma vontade de lua em forma de conhaque, deixando o Diabo mais comovido em sua suspeita. Eu não devia te dizer mas hoje é domingo e não haverá FAUSTO; haverá outra coisa. Livre-se dela pois um poema precisa ter 7 faces. Quantas você tem?
PS: conversa imaginária com o poema de sete faces, de Drummond.

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