segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Ledo Ivo

ASILO SANTA LEOPOLDINA
Todos os dias volto a Maceió.
Chego nos navios desaparecidos, nos trens
[ sedentos,
[nos aviões cegos que só aterrizam ao anoitecer.
Nos coretos das praças brancas passeiam
[ caranguejos.
Entre as pedras das ruas escorrem rios de açúcar
fluindo docemente dos sacos armazenados nos
[ trapiches
e clareiam o sangue velho dos assassinados.
Assim que desembarco tomo o caminho do
[ hospício.
Na cidade em que meus ancestrais repousam em
[cemitérios marinhos
só os loucos de minha infância continuam vivos e
[à minha espera.
Todos me reconhecem e me saúdam com
[ grunhidos
e gestos obscenos ou espalhafatosos.
Perto, no quartel, a corneta que chia
separa o pôr-do-sol da noite estrelada.
Os loucos langorosos dançam e cantam entre
[ as grades.
Aleluia! Aleluia! Além da piedade
a ordem do mundo fulge como uma espada.
E o vento do mar oceano enche os meus olhos
[ de lágrimas.

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