sábado, 29 de janeiro de 2011

Caio Fernando Abreu


“Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim, que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo; repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante. Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se fosse nada.” - Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Lya Luft


O amor nos tira o sono, nos tira do sério, tira o tapete debaixo dos nossos pés, faz com que nos defrontemos com medos e fraquezas aparentemente superados, mas também com insuspeitada audácia e generosidade. E como habitualmente tem um fim – que é dor – complica a vida. Por outro lado, é um maravilhoso ladrão da nossa arrogância.
Quem nos quiser amar agora terá de vir com calma, terá de vir com jeito. Somos um território mais difícil de invadir, porque levantamos muros, inseguros de nossas forças disfarçamos a fragilidade com altas torres e ares imponentes. 
A maturidade me permite olhar com menos ilusões, aceitar com menos sofrimento, entender com mais tranqüilidade, querer com mais doçura. 
Às vezes é preciso recolher-se.
Lya Luft

Célia - Não Se Vá

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Bambina se foi....


Quem me conhece sabe do meu amor por gatos e cachorros.Perdi um cachorro que me deu o prazer da sua companhia por 17 anos.Hoje tenho uma gata vira lata que já tem 9 anos,mas com muita fé em Deus,ela ainda vai viver muitos anos.Essa semana compartilhei com um amigo a perda de Bambina,a cachorrinha de estimação dele e da sua sobrinha.A dor dele ainda foi maior do que a minha porque o meu cachorro morreu de velhice,não tive que sacrificá-lo,a dele foi para o sacrifício,não havia mais condição,a doença chegara na fase terminal.Ele escreveu um texto lindo e comovente que socializo com vocês;

Faz uma semana que Bambina nos deixou,uma coker spainnell iluminada com suas olheirinhas esvoaçantes e douradas;era nossa alegria e o tormenento de lagartixas e canteiros debaldes,estamos tão sozinhos sem ela que nossas mãos ficaram fazias e a enexorabilidade de sua ausencia pesa-nos.Parece que carregávamos a eternidade ao alçar o saquinho com seu corpo mirrado pela doença e o tormento,é triste dizer adeus,mais triste ainda não poder ter dito,foram 11 anos de silencios cumpliciosos e de um amor surdo e temperado entre risos e folguedos,o único ser que nos remete à infância são os cães,daí que sua ausencia presentida doer como um entardecer precoce.Ficou tudo impregnado de sua ausência,latidos,rosnados,um toquinho de rabo a denunciar felicidade agora é uma saudade sem nexo,nunca falamos nada,raças difusas que eramos,mas parece que sua ida me deixou na garganta um nó surdo de palavras impregnadas de ternuras que se diluiram no tempo,assim espero...
adeus minha querida,vou uivar para a noite em que me velavas.

André Pereira

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

2011



Eu escolho viver, viver dores e decepções, tristezas e crueldades, injustiças e traições, amores e amizades, alegrias grandes e felicidades instantâneas, prazeres imensos e pequenas delicadezas, fracassos retumbantes e superações memoráveis, força insuspeita e resignações necessárias, erros crassos e vitórias incontestáveis. Eu escolho viver tudo, viver os arranha-céus e os meio-fios, as poças na calçada, a lua no céu, a areia nos pés, o caminho em cada passo, as lágrimas todas pelos melhores e piores motivos, as comemorações, as vidas que terminam e as que começam, a doença, a cura, as partidas e as chegadas, tudo o que não vai mais voltar e o que não cansamos de repetir, as noites de sono e de insônia, o escuro do mundo, o silêncio perfeito, o grito, o vento, a imperfeição. Eu escolho viver com todos os aplicativos, todos os itens de fábrica, viver all inclusive, viver o todo, os detalhes, as nuances, as ordinariedades, viver toda e cada coisa. Eu escolho viver, escolho a brutalidade da vida, escolho aceitá-la e aprender com ela, ou me declarar incapaz de entendê-la, mas eu escolho viver mesmo assim. Eu escolho viver e mudar de idéia, eu escolho ser eu mesma e orgulhar-me da vida que vivo, eu escolho viver hoje, que é só o que temos.

Que 2011 seja feito de muitos hojes e que possamos escolher vivê-los todos os dias, um de cada vez, conscientes dos nossos desejos e das nossas escolhas e que não cogitemos nenhuma outra alternativa que não seja ser feliz.

TEXTO ESCRITO POR TICCIA)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Cartas (Caio Fernando Abreu)


Porto Alegre, 10 de agosto de 1985

(…) Somos muito parecidos, de jeitos inteiramente diferentes: somos espantosamente parecidos. E eu acho que é por isso que te escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim – para não querer, violentamente não querer de maneira alguma ficar na sua memória, seu coração, sua cabeça, como uma sombra escura. Perdoe a minha precariedade e as minhas tentativas inábeis, desajeitadas, de segurar a maçã no escuro. Me queira bem.
Estou te querendo muito bem neste minuto. Tinha vontade que você estivesse aqui e eu pudesse te mostrar muitas coisas, grandes, pequenas, e sem nenhuma importância, algumas.Fique feliz, fique bem feliz, fique bem claro, queira ser feliz. Você é muito lindo e eu tento te enviar a minha melhor vibração de axé. Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim.
Com cuidado, com carinho grande, te abraço forte e te beijo,
Caio


Obs: A foto que ilustra essa carta é de Canindé Soares.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

sábado, 1 de janeiro de 2011

"Canção de Novela"






Canção de Novela

Toalha molhada
Lâmpada acessa
Cidade parada
Tudo é você

Vento na saia
TV ligada
Espelho d’água
Tudo é você

Sol na janela
Canção de novela
Já passa da hora
Eu preciso do seu beijo agora

A luz na cozinha
Toda azulejada
Madruga afora
Tudo é você

Nuvem de chuva
Guitarra plugada
Noite estrelada
Onda que quebra

Sol na janela
Canção de novela
Já passa da hora
Eu preciso do seu beijo

(Adriana Calcanhoto)