terça-feira, 19 de março de 2013

Adriana Brunstein

os casacos esquecidos no armário
no último inverno
de folhas tristes
e lágrimas geladas
feito nitrogênio líquido
... que conservava os corações
solitários e imunes
e a vista embaçava
e as juntas dos velhos doíam
ficavam apenas as penas
das aves migratórias
os casacos esquecidos no armário
tão cheirando a mofo, porra!

sexta-feira, 15 de março de 2013

Luiz Ruffato



Quarto poema
No último dia do último ano da falseada infância,
vomitando solidão pelas noturnas ruas da cidade,
não imaginava que, mil e quatrocentos quilômetros além,
tu já existias, forma entre formas, magros dedos
desenhavam efêmeros rabiscos na suada vidraça
de um inverno engastalhado na memória,
cicatrizes maculavam teu corpo inúbil,
pernas ocultavam silêncios entre os móveis,
noites aqueciam mágoas
aqueciam nódoas.
No último dia do último ano da falseada infância,
vomitando solidão pelas noturnas ruas da cidade,
só eu não existia ainda. Tu me inventaste.

terça-feira, 12 de março de 2013

ADÉLIA PRADO






"Esconder-se no porão, de vez em quando, é necessidade vital. Precisamos de silêncio e solidão, e, não, apenas os poetas. Senão, corremos o perigo de nos esvairmos em som, fúria e esterilidade. O campo para que a palavra se instale para o autor e para o leitor é o campo do silêncio e da audição."

- Adélia Prado

segunda-feira, 11 de março de 2013

Ana Paula Oliveira




Deixou o raio
o quarto
o risco

e se foi com a dança
de apanhar gravetos

Deixou o raio
o quarto
o risco

E esse vício tão sublime
de brincar de abismos.

Ana Paula Oliveira.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Desejo boas reflexões, coragem e boas notícias.



Relacionamentos doentios, obsessões e afins também são tão nocivos quanto as drogas. As pessoas que vivem em função disso procuram uma forma de se anestesiar o tempo todo, usam o Outro como foco e fogem de si mesmas. Cuidar da própria vida dá trabalho porque exige um aprimoramento que é um exercício diário. Mas é delicioso ser sua melhor companhia. Na teoria parece muito fácil, mas não é. Eu sei. Só que nem ao menos vejo as pessoas tentando. Me perguntam como conseguir se desvencilhar de alguém que subtrai, suga, machuca. Digo que ADEUS foi feito para isso. Respondem: “mas é tão difícil!”. Ora, se fosse fácil ninguém sofreria. O imediatismo faz o ser humano se expor e se submeter a circunstâncias de alívio imediato catastróficas. E que nada mais é do que postergar a cura de uma dor que precisará ser cuidada adiante. É um insulto tentar tornar o Outro, aquele que te rejeita, refém da sua loucura com as inúmeras tentativas de ver nas entrelinhas de... um gesto educado, esperança para algo maior.
É uma insanidade viciar-se na adrenalina da manipulação do “não te quero, mas não te deixo” e ficar idealizando histórias sólidas com pessoas afetivamente indisponíveis, sejam comprometidas ou não. Neste caso, só há fragilidade e um tempo perdido que jamais será recuperado. E você só dá sua carência, não o seu amor.

Quanto a mim, a quem interessar possa, meu tempo é precioso. E cabe aquela frase:
Eu não tenho mais tempo para ser a pessoa certa na TUA hora errada.

Desejo boas reflexões, coragem e boas notícias.

Marla de Queiroz