segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Clarissa Corrêa







"Quem é feliz não conta, não espalha, não grita aos quatro cantos. Quem é feliz, satisfaze-se por ser. E sabe que felicidade anda coladinha na inveja. Quem é feliz não precisa provar nada, simplesmente é. As pessoas felizes demais nunca me passaram confiança. Essa coisa de que a vida é uma festa e não existe nada errado, não me brilha aos olhos. Feliz é quem conhece o lado ruim e o respeita. Feliz é quem já foi infeliz. Somente quem já foi infeliz pode entender que a tristeza traz um punhado muito bom de aprendizados. Felicidade não é sobre quem grita mais alto; é sobre quem sorri mais fundo."

Clarissa Corrêa
 
(Foto do fotográfo potiguar João Maria)

terça-feira, 21 de agosto de 2012

O valioso tempo dos maduros

O valioso tempo dos maduros

"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral. As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa... Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, que não se encanta com triunfos, que não se considera eleita antes da hora, que não foge de sua mortalidade, Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade! O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial!"
 
 
A foto é da minha sobrinha neta Sophia,uma fofura de criança..

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Carlos Heitor Cony - O imenso Jorge




Carlos Heitor Cony - O imenso Jorge

Criou uma obra torrencial, quente de vida e de pecado, numa prosa que parecia desleixada aos críticos

Ele foi o único habitante deste planeta que conseguiu acreditar com a mesma sinceridade em Marx e na Menininha do Gantois. Muitos não admitem essa intimidade de Jorge com o marxismo, ao qual aderiu mais com o coração do que com a cabeça. E sua literatura também foi assim. Nada de papo cabeça.

Papo coração.


Suando baianidade, melado pelo ouro do cacau, ele foi uma mistura de pai de santo e pajé, um pajé que sabia contar histórias bonitas para a imensa taba global onde à noite, se alguém era capaz de duvidar, ele repetia com astúcia: "Meninos, eu vi!".


Se o poeta é o fingidor, o romancista é o mentiroso. No caso da poesia, quanto mais finge, mais o poeta é sincero.


No romance, quanto mais se mente, mais se é verdadeiro. E nada mais verdadeiro do que o universo de saveiros e moleques, de mulatas cadeirudas e operários perseguidos, de xangôs e iemanjás, de cabarés e velórios, de doutores de borla e capelo e capitães de longo curso, de quituteiras e babalaôs que povoaram suas noites enfeitiçadas, seus terreiros de suor e milagres -que a carne sofre inteira e precisa sentir prazer por inteiro, pois ninguém é de ferro.


Jorge Amado conseguiu o absurdo de ser cético e de ser crente. Só na Bahia podia nascer um sujeito assim. Por isso mesmo ele tinha um gosto de azeite e de sono espreguiçado, de cafuné e de mulata tombada nos fundos da cozinha.


Espiou o mundo com o olho treinado nas fechaduras da vida: compreendeu tudo. Leitores que ele teve em todo o mundo não sabem o que perderam: a pessoa humana que só deu a conhecer uma parte de si mesma. Uma parte que constitui um dos maiores todos da literatura moderna.

E este Jorge começou a se mostrar de mansinho, escrevendo "Lenita", uma novela em parceria com Dias da Costa e Edson Carneiro. Tinha 15 anos. O trabalho em equipe geralmente não figura na lista de suas obras, mas não deixou de ser uma ameaça. Ele queria escrever.

O seu aprendizado não seria feito nos laboratórios da gramática ou nos alambiques da linguística. Como a cozinheira se faz no fogão, prevendo e provendo panelas e frigideiras, Jorge se fez na vida, vivendo e escrevendo. Lenita teria sucessoras: Gabriela, Dona Flor, Tereza Batista, Tieta do Agreste.

Criou uma obra torrencial, humana, quente de vida e de pecado, numa prosa que parecia desleixada aos críticos do "ancien régime" literário, mas que o povo ia absorvendo, gostando e consagrando.

Sua obra é inteira, coerente, vívida, caudalosa, formalmente irregular e densamente regular. Não se deve exigir a mediocridade das fórmulas tradicionais de um escritor cuja força humana e literária criou "Jubiabá", "Mar Morto", "A Morte e a Morte de Quincas Berro d'Água".


Suas mulheres de ancas cobiçadas, seus turcos fesceninos cheios de truques, seus marinheiros mentirosos, seus santos e suas senhoras afogadas em mantas e colares coloridos são sempre os mesmos, em qualquer língua ou sob qualquer sintaxe.


Jorge faria hoje, 10 de agosto, cem anos. Fez mais do que isso. Para todo o sempre, ele ficou inteiro em sua obra, e para aqueles que o conheceram foi uma figura humana espetacular. Dele guardo duas lembranças pessoais.


À minha revelia, marcou um encontro com a Menininha do Gantois e foi comigo para ver como me sairia. Garantiu-me que a visita "mal não pode fazer". Filho dileto de outra mãe de santo, ele não podia pedir a bênção de uma rival. Mas pediu e foi abençoado. Para todos os efeitos, ele era filho e devoto de todas as mães de santo da Bahia.


Tancredo Neves foi a um almoço na "Manchete". Quando me viu, o já presidente eleito elogiou crônica publicada naquela semana, aludindo a uma suposta "plasticidade" de estilo. Tive meu minuto de glória. Logo chegou Jorge Amado, blusão com todas as cores, boné de operário russo e capanga pendurada em diagonal no seu largo peito. Tancredo correu para abraçá-lo e elogiou seu último livro: "Que plasticidade!".


Murchei. Fui me queixar com o Jorge, muito mais escolado em situações iguais. Ele comentou: "O Doutor Tancredo errou de profissão. Seria melhor e maior romancista do que todos nós, incluindo o velho Machado".

quinta-feira, 2 de agosto de 2012







"A mim, na realidade, apaixonava o caminho do meio: bebedeiras, loucura e gente durante a noite. Solidão e silêncio de dia. Lia e escrevia diante do mar. Varadero continuava sendo uma praia e um povoado fantasma. Ali descobri que o ócio total e absoluto é imprescindível para o criador. Sempre será preferível para o escritor ter cinco centavos no bolso, mas dispor de todo o tempo e solidão, em vez de cem mil dólares em troca de viver como um louco no meio da sociedade, puxado pelo estresse."


(Pedro Juan Gutierrez) 

(A foto que ilustra esse texto é do filme "PARIS TEXAS" )