domingo, 10 de maio de 2015

Marize Castro

AVISO

É perigoso, menina,
sair de casa
sem seu guarda-chuva
perolado
sem seu fogo mortífero
sem seu sexo
sempre aberto
aos apelos
do mundo.
É perigoso, menina,
se deixar para trás,
subir até a mais alta montanha
e de lá não se jogar.
É perigoso, menina,
(muito perigoso)
não parar de buscar
o paraíso
e se lambuzar de prazeres
alheios.
É perigoso, menina,
beijar a boca
de alguém tão mais velho
e se perder assim:
não mais saber
onde reside
a primeira luminância
a última escuridão.
É perigoso, menina,
acreditar na memória,
jogar-se de tal altura
inflar-se de clichês
quebrar suas tão jovens
asas

e não cair.

É perigoso, menina,
proteger-se e se armar demais
querer o outro, ser o outro
– habitar o inabitável.


Marize Castro

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Dylan Thomas

Não entres docilmente nessa noite serena,
porque a velhice deveria arder e delirar no termo do dia;
odeia, odeia a luz que começa a morrer.
No fim, ainda que os sábios aceitem as trevas,...
porque se esgotou o raio nas suas palavras, eles
não entram docilmente nessa noite serena.

Homens bons que clamaram, ao passar a última onda, como podia
o brilho das suas frágeis ações ter dançado na baia verde,
odiai, odiai a luz que começa a morrer.
E os loucos que colheram e cantaram o vôo do sol
e aprenderam, muito tarde, como o feriram no seu caminho,
não entram docilmente nessa noite serena.
Junto da morte, homens graves que vedes com um olhar que cega
quanto os olhos cegos fulgiriam como meteoros e seriam alegres,
odiai, odiai a luz que começa a morrer.
E de longe, meu pai, peço-te que nessa altura sombria
venhas beijar ou amaldiçoar-me com as tuas cruéis lágrimas.
Não entres docilmente nessa noite serena.
Odeia, odeia a luz que começa a morrer.
Dylan Thomas
Tradução: Fernando Guimarães
Ouvir aqui uma leitura do autor do poema:
 
 
 
Os créditos são de Carlão.Foi do facebook dele q pesquei.