sábado, 26 de junho de 2010

PARA ELA QUE EU INVENTO ESCREVENDO


Amo
Por princípio
Tudo o que te diz respeito

Amo a fila do banco
Se você esteve
No caixa

Recentemente

Amo o nome
De uma rua

Por que você
Tem passado por ali

Diariamente

E gosto mais
De mim

Por você ter me tocado

E escrevo
Sem medo

Um poema romântico
E anacrônico

Porque a literatura
Só é boa

Quando você
Folheia um livro

Amo seu pai
Porque ele está em você

Amo o guarda
Que fez aquela multa

Porque era seu carro

E amo o cadastro
De sua última consulta
Ao médico

Um papel com sua assinatura

É digno
De todo amor que eu sinto

Amo o fato
De ver que cada uma dessas
Palavras que escrevo

Contradizem tudo o que eu penso

Te amo
Porque te invento

Everton Behenck

quarta-feira, 23 de junho de 2010

LEMINSKI


um bom poema

leva anos

cinco jogando bola,

mais cinco estudando sânscrito,

seis carregando pedra,

nove namorando a vizinha,

sete levando porrada,

quatro andando sozinho,

três mudando de cidade,

dez trocando de assunto,

uma eternidade, eu e você,

caminhando junto

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Mário Bortolotto


Assisti o jogo do Brasil com o devido distanciamento. Sozinho em casa pra evitar qualquer explosão de ufanismo do meu lado. Já recebi vários comentários de gente muito puta comigo. Os mais ofensivos, eu simplesmente deleto, como sempre faço. Se quiserem discordar de mim, tá tudo certo, mas sem ofensa, que eu não tô precisando disso e eu não tô ofendendo ninguém no meu blog. Gostei de algumas jogadas do Robinho e do belo gol do Maicon. E da segurança do Juan na zaga. E acho que o Nilmar pode ser melhor aproveitado no time principal. Mas é só. O resto foi um futebol chato do tipo que o Dunga adora. Tem gente que já tá me acusando de torcer pela Argentina. Na verdade não tô torcendo por ninguém. Estou só assistindo os jogos e até agora só gostei do futebol da Alemanha e da Argentina. Isso não quer dizer que esteja torcendo pela Argentina. Só não vou torcer pela seleção evangélica do Dunga, é só isso. Podem inclusive ganhar a Copa, o que é bem possível, mas não me sinto representado por essa seleção. Porra, eu vi a Copa de 70, caralho. Tinha oito anos de idade, mas vi. Então só quero o direito de assistir com o devido distanciamento. Só quero apreciar o bom futebol, independente do país que está jogando. Se o Brasil jogar bem (o que ainda não foi o caso), também quero curtir e ficar entusiasmado. A arte é um troço que me entusiasma e pra mim futebol sempre foi sinônimo de arte.

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Tava conversando dia desses sobre relacionamentos. Alguém me perguntou quando é que eu percebo que um relacionamento acabou. Eu respondi que é quando você vai assistir um filme por exemplo e não sente falta da pessoa que você ama do seu lado na cadeira do cinema. Quando você ama, sente uma necessidade estranha de dividir os bons momentos com a outra pessoa. Quantas vezes assisti um filme sozinho e gostei tanto que precisei convidar a mulher que eu amava pra assistir comigo de novo? E gostava de ver como ela reagia àquela cena que tinha me emocionado e tal, sabem como é? Queria ver se ela também se emocionava ou se achava determinada cena engraçada. É você estar num show de rock e pensar: "Eu queria que ela estivesse aqui ouvindo essa música comigo". Quando isso não é mais importante, acho que acabou. Simples, né?

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sábado, 12 de junho de 2010

Henry Thoreau


"Fui para os bosques porque pretendia viver deliberadamente, defrontar-me apenas com os factos essenciais da vida, e ver se podia aprender o que ela tinha a ensinar-me, em vez de descobrir a hora da morte que não tinha vivido. Não queria viver o que não fosse vida, viver é tão precioso; nem queria praticar resignacão, a não ser que fosse absolutamente necessário. Queria viver profundamente e sorver toda a essência da vida, viver violenta e espartanamente de forma a derrotar tudo que não fosse vida..."

sábado, 5 de junho de 2010

louva-deus


entre as hastes da persiana cor-de-gelo
se alojou um louva-deus de um verde
tão tenro de esperança
que comove

sobrevoa vez em quando a cama e o micro
e pousa displicente na colcha do beliche
por sobre e dentre os livros
de poesia

está aqui há quatro dias

e eu me pergunto o que quer o que pretende
um louva-deus no seu verde tão tenro de
esperança que comove
neste quarto

cor-de-gelo como a cor da persiana onde já
ninguém habitualmente habita além do
micro e da tevê e
do beliche

onde a sono solto hibernam as lembranças
meio a versos dentre os livros esquecidos
e outros mais a
escrever

estão aqui há quatro anos

e agora enquanto a madrugada se desfia
em guns n' roses cantando bob dylan
se revestem de esperança
e enverdecem

como fosse possível transmutar-se o gelo
da persiana e das paredes mais o velho
vermelho do beliche
pelo vôo

entontecido de algum simples louva-deus



Márcia Maia

terça-feira, 1 de junho de 2010

Valéria Tarelho


FECHADO PARA BALANÇO


não conto tudo
às paredes do meu quarto
que me dão tanto crédito
nem dou desconto
ao criado-mudo
que compra meus segredos
(os mais absurdos)

acho um preço justo:
o que peço
e que pago
por um silêncio
trocado

há portas
que por importância alguma
abro




(Valéria Tarelho, natural de Santos/SP (1962), residente em São José dos Campos/SP, separou-se da advocacia devido a um caso com a poesia. Seus primeiros escritos datam de abril de 2002. Está também no Proseares com Sidnei Olívio)