sexta-feira, 28 de junho de 2013

Nivaldete Ferreira







tenho fé
nas pessoas
de Pessoa.

devíamos ter também
nas nossas.

quem amanheceu
a mesma pessoa
de ontem?

basta um olhar
ou a falta disso
basta um tom diferente
na voz
ou um silêncio
basta qualquer coisa,
até nada.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Manoel de Barros


A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como
sou – eu não aceito.
Não agüento ser apenas um
sujeito que abre
portas, que puxa válvulas,
que olha o relógio, que
compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora,
que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem
usando borboletas.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

NIvaldete Ferreira








de solidão em solidão
construí
uma multidão de mim.
assim posso habitar-me
sem ti
sem medo
 
 
 
 
(A foto é do Mirante da Redinha)

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Ana Peluso

foram as catarses ditas infiéis
que fizeram o inferno do céu ao meio-dia
um tombadilho a queda uma alforria
de ventos soprando a vida um segundo
para a frente
quem teme o corpo livre no espaço?
tudo já foi dito ou há esperança?
o amanhã é laranja ou acidentado?
quem sabe mais do que quem sobre tudo?
em ângulos tímidos
vãos surgem através das portas
deixam ver a poeira do sempre
e nada do sublime que não se previa
a fé que no escuro o silêncio faça eco
a descrença na infidelidade
como única virtude
desse momento em diante
foram as catarses que escreveram um futuro