"Se os outros envelhecem
como dizer que não perdi a juventude?
Tardes como essas houve muitas
e um vivo fervor de bicicletas e borboletas
Quem sou eu para ousar essa juventude
através de um tempo que cansa o rosto do meu pai?
Quem sou eu para ousar a flor e usá-la nos cabelos?
Que mulher eu sou?
O tempo só cria devorando
e não posso ousar contra as dores do parto
Entre o tempo e o nada
onde espichar o leite dos meus versos?"
Iracema Macedo
(Foto de Luiz-Cartier Bresson)
quinta-feira, 29 de maio de 2014
segunda-feira, 26 de maio de 2014
Alice Sant'anna
a sandália nova branca com dedos
que se refestelam do lado de fora
como crianças que sabem o verão que vem
de repente a chuva mingua os planos
da calça jeans com sandália de dedos
uma combinação entre-estações
para não se sentir nem tão lá nem tão
cá os dedos curvados corcundas
como crianças tristes que sabem
o toró que se aproxima as unhas recém-cortadas
que planejaram se mostrar sobre a cadeira de rodinhas
que nada a água inundou a sexta
da janela os bambus se movem muito
chegam a parecer desesperados
as folhas penduradas são cabelos colados
que gritam novas rugas onde nada havia
que se refestelam do lado de fora
como crianças que sabem o verão que vem
de repente a chuva mingua os planos
da calça jeans com sandália de dedos
uma combinação entre-estações
para não se sentir nem tão lá nem tão
cá os dedos curvados corcundas
como crianças tristes que sabem
o toró que se aproxima as unhas recém-cortadas
que planejaram se mostrar sobre a cadeira de rodinhas
que nada a água inundou a sexta
da janela os bambus se movem muito
chegam a parecer desesperados
as folhas penduradas são cabelos colados
que gritam novas rugas onde nada havia
sábado, 17 de maio de 2014
Carta à Virginia Woolf
Querida Virginia
Não sei
como começo. Parabenizando-lhe pelos seus 129 anos? Eu acredito que sua
idade vai muito além desses números, tão eternos para nós humanos
comparados à nossa vida aqui e agora. Sua alma é antiga e sábia e deve
estar rodando por aí (no céu?) ou em outro corpo que jamais saberei qual
é. O importante é saber que sua alma também continua aqui, em cada
livro seu, em cada vez que alguém lê sua obra – sublime e perfeita. A
alma deve ser algo infinito.
Eu
agradeço pelo dia em que o acaso colocou em meu colo um livro seu e
agradeço também a sua paciência quando, no início, eu não entendia muito
bem suas frases e pensava “essa mulher escreve difícil”. Mas eu soube
ser persistente sem ser chata, acredito eu, pois fui lhe comendo pelas
beiradas, saboreando as frases como se fossem feitas para mim, única e
exclusivamente.
Agradeço
também pelas noites que você me acompanhou e também peço desculpas
pelas vezes que peguei no sono. A culpa foi toda minha que num lapso de
concentração me peguei em devaneios que não me pertenciam mais e que não
mereciam minha atenção. Mas foi justamente esses devaneios absurdos e
você, ali do meu lado, que me fizeram compreender o que parecia tão
incompreensível ao ponto de eu desistir.
Virginia, obrigada por não me fazer desistir.
Antes de
você ter colocado as pedras no casaco você viveu bem, levou uma vida
sincera, aproveitou os encontros com os seus amigos, admirou Londres
como ninguém, amou e foi amada, trabalhou e produziu obras eternas.
Virginia Woolf, você sabe que é eterna? Aí onde você está compreende
que, tantos como eu, estão aqui na Terra admirados pelo seu trabalho e
também pela pessoa que você foi? Você não foi triste, você não foi
infeliz. Virginia Woolf era alegre, era bem humorada, eu sempre digo
isso porque me sinto na obrigação de desfazer sua imagem de depressiva.
Mas havia realmente uma depressão, sim, eu sei. Mas não era somente isso
que fez você ser você. É isso que muitos não entendem, minha cara…
Eu ainda
não li toda a sua obra, mas estou quase lá. Minha última leitura foi
Orlando. Que belo livro, Virginia! Uma mistura de surrealismo e
modernismo. Lindo. Mas não vou me aprofundar em análises sobre a sua
obra. Deixo isso para seus amigos que estão aí com você, porque certas
observações precisam ser faladas olhando nos olhos. Olhos que piscam,
pois os seus são estáticos, mas me fitam através da foto com muito mais
vida que meus próprios olhos.
Eu
preciso lhe agradecer por muito mais. É um tanto que faz uma bolha de ar
sair de meu coração, atravessar meu peito e parar em minha garganta.
Quando abro a boca para falar, nada sai. E o agradecimento vira um
suspiro mágico que lhe abraça onde quer que você esteja. Obrigada por
ser parte de mim, obrigada por me permitir fazer isso.
Essa é minha primeira carta para você. Farei isso mais vezes.
Com carinho,
Francine Ramos
http://livroecafe.com/2011/01/25/carta-a-virginia-woolf/
domingo, 11 de maio de 2014
SAUDADE
Às vezes, sentir falta da pessoa que está na cama com você dói mais do que a saudade de quem está em outro continente.
O Castelo nos Pirineus (Jostein Gaarder)
O Castelo nos Pirineus (Jostein Gaarder)
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