quinta-feira, 31 de julho de 2014
quarta-feira, 16 de julho de 2014
Ana Paula Oliveira.
Deixou o raio
o quarto
o risco
e se foi com a dança
de apanhar gravetos
Deixou o raio
o quarto
o risco
E esse vício tão sublime
de brincar de abismos.
Ana Paula Oliveira.
o quarto
o risco
e se foi com a dança
de apanhar gravetos
Deixou o raio
o quarto
o risco
E esse vício tão sublime
de brincar de abismos.
Ana Paula Oliveira.
terça-feira, 15 de julho de 2014
A Boa Manhã*
Apenas passo os olhos pelos jornais; jogo-os fora, alegremente,
porque eles pretendem dar-me notícia de muitos problemas, e eu não tenho
nem quero problema nenhum.
Acordei um pouco tarde, abri todas as janelas para o sábado louro e azul, e o mar me deu bom-dia. Passa um pequeno barco branco no mar de safira: como vai ligeiro, como vai contente, com seu bigodinho de espumas brilhantes! Uma ave se detém um instante peneirando, depois mergulha na vertical em grande estilo; quando volta, um pequeno peixe brilha em seu bico.
Chupo uma laranja, e isto me dá prazer. Estou contente. Estou contente da maneira mais simples – porque tomei banho e me sinto limpo, porque meus braços e pernas e pulmões funcionam bem; porque estou começando a ficar com fome e tenho comida quente para comer, água fresca para beber.
Nenhuma tristeza do mundo nem de meu passado me pega neste momento. Tenho prazer em ver que a Ilha Rasa está lá direitinha, em seu lugar, com o farol branco. Vejo ao longe, saindo da praia, dois amigos; estão conversando e rindo. Tomaram seu banho de mar, vão almoçar; estou contente porque os amigos vão bem e suas mulheres esperam crianças. Saúde e prosperidade! Estou contente porque recebi uma boa notícia. Nada de extraordinário, mas uma notícia muito simpática.
Sei que o mundo está cheio de horríveis problemas – e eu mesmo, pensando bem, tenho alguns bem chatos. Mas não estou pensando neles; estou vivendo nesta fresca manhã um momento de bem-estar, de felicidade.
Ora, considerando que a felicidade é uma suave falta de assunto, eu me despeço de todos com um cordial bom-dia e vou almoçar. Não quero contar prosa, mas tenho arroz, feijão, carne, alface, laranja, pão, tudo o que um ser humano necessita para viver bem.
Um velho amigo vem honrar a minha mesa; falaremos com simpatia das mulheres bonitas desta formosa capital. Conversa de brasileiros! Bom dia, passem bem todos com suas mulheres, com seus amigos, com suas amantes também.
(*) In, Rubem Braga. 200 crônicas escolhidas. Rio de Janeiro: Record, 2004, p. 118
segunda-feira, 7 de julho de 2014
Marcelo Montenegro
AURÉOLAS EM LATAS DE BISCOITO
Comprar jornal na esquina e na volta
conferir a caixa postal telefônica. Morder o
ponto do dente onde já se sabe que a dor
dói com exatidão. Guardar dinheiro antigo
na carteira. Olhar as lombadas dos livros
numa estante desconhecida à espera de
alguém. Errar as medidas do café fora de
casa. Estar perto de perceber alguma
coisa. Encantar-se com parques de
diversão desativados. Pisar de meia no
quintal molhado pela chuva de ontem.
Marcelo Montenegro
[in "Garagem Lírica", Annablume, SP, 2012]
Comprar jornal na esquina e na volta
conferir a caixa postal telefônica. Morder o
ponto do dente onde já se sabe que a dor
dói com exatidão. Guardar dinheiro antigo
na carteira. Olhar as lombadas dos livros
numa estante desconhecida à espera de
alguém. Errar as medidas do café fora de
casa. Estar perto de perceber alguma
coisa. Encantar-se com parques de
diversão desativados. Pisar de meia no
quintal molhado pela chuva de ontem.
Marcelo Montenegro
[in "Garagem Lírica", Annablume, SP, 2012]
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