FRUTA-PÃO
Para Leo Ventura
Minha madeleine
É a memória dessa fruta
Nas beiras litoral
Entre os coqueiros e a brisa
O cheiro de sol na areia
Os movimentos livres da infância
Os agitos soltos da juventude
O amor ancorado na pulsação quieta
A poesia inscrita no sabor
João Batista de Morais Neto
quarta-feira, 29 de julho de 2015
domingo, 26 de julho de 2015
Regis Bonvicini
NOTÍCIA DA SÍRIA
Um garoto libanês
camiseta verde-lunar
"I'm so keen on being looked at"
bermuda cinza
arranha palavras em português
seu irmão mais novo com uma cara meio sinistra
buraco entre os dentes incisivos de cima
a dez passos da mesquita
muro alto, largo, relevo áspero,
Soueid Têxtil
um tapume de zinco, tinta descascada
a porta de ferro e vidro em pé sem a casa
uma cadeira de escritório de aço tubular, vazia,
estofado de espuma e napa, rasgado
do lado de fora de uma casa
caindo aos pedaços
uma garota enverga um véu rosa claro
cabeça baixa
vestido preto longo
passa
um palestino,
de um campo de refugiados na Síria,
Aka,
o confisco total de víveres
imposto pela ditadura de Al-Assad
garotos comendo grama
bombardeios
um hibisco esguio sobre a marquise
agora trabalha no açougue e comida halal
de um sunita de Trípoli
cozinheiro, garçom, faz-tudo
em troca de cama e comida
e aqui de novo os fuzis
um ilegal metralhado ontem à noite na esquina
barraca "Envío dinero"
ao meio-dia se volta para Meca na calçada
cruzes enfiadas nas bocas das meninas
sem falar português
um garoto negro passa
carregando um manequim
camiseta verde-lunar
"I'm so keen on being looked at"
bermuda cinza
arranha palavras em português
seu irmão mais novo com uma cara meio sinistra
buraco entre os dentes incisivos de cima
a dez passos da mesquita
muro alto, largo, relevo áspero,
Soueid Têxtil
um tapume de zinco, tinta descascada
a porta de ferro e vidro em pé sem a casa
uma cadeira de escritório de aço tubular, vazia,
estofado de espuma e napa, rasgado
do lado de fora de uma casa
caindo aos pedaços
uma garota enverga um véu rosa claro
cabeça baixa
vestido preto longo
passa
um palestino,
de um campo de refugiados na Síria,
Aka,
o confisco total de víveres
imposto pela ditadura de Al-Assad
garotos comendo grama
bombardeios
um hibisco esguio sobre a marquise
agora trabalha no açougue e comida halal
de um sunita de Trípoli
cozinheiro, garçom, faz-tudo
em troca de cama e comida
e aqui de novo os fuzis
um ilegal metralhado ontem à noite na esquina
barraca "Envío dinero"
ao meio-dia se volta para Meca na calçada
cruzes enfiadas nas bocas das meninas
sem falar português
um garoto negro passa
carregando um manequim
domingo, 19 de julho de 2015
JANELA POÉTICA (III
JANELA POÉTICA (III)
Marize Castro
às margens de mim
o desejo é o mesmo
ir para nenhum lugar
correr para dentro
talvez voar
(A poeta Marize Castro nasceu em Natal. Editora e jornalista, é autora dos livros de poesia “Marrons Crepons Marfins” (1984), “Rito” (1993), “Poço.Festim.Mosaico”(1996), “Esperado Ouro” (2005), “Lábios-espelhos” (2009) e “Habitar Teu Nome” (2011). “Em seus versos há algo de fundamental, algo entre o belo e o verum, a verdade em beleza, um cuidado especial com a síntese, um encontro com a poesia” – afirma Haroldo de Campos)
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