quinta-feira, 22 de abril de 2010

Apenas goste de mim


Apenas goste de mim. Me sorria discreto quando todo o resto do mundo não estiver olhando. E me sorria também quando todo mundo olhar, com um jeito de quem faz piada interna, pra que eu me sinta mais importante que o resto.Goste de mim mesmo de óculos e cabelo preso pra cima, goste de roupas específicas do meu guarda roupa. Goste das minhas palavras, do meu jeito criativo de elogiar, das minhas menores ou mais elaboradas declarações de amor. Não aceite todos os meus depoimentos, mas não tenha coragem de apagá-los.Goste das coisas que eu não gosto no meu corpo, adore as que eu já aprendi a gostar. Guarde as minhas mãos nas suas com cuidado, segure meus pulsos como se fossem realmente frágeis, mas me aperte com força me puxando pelos cabelos como se quisesse se fundir em mim. Me deseje em momentos inoportunos, me leve embora no meio da festa só porque não pode esperar mais. Me entenda sem palavras, me repreenda em silêncio de vez em quando, porque no fundo eu preciso sentir que pertenço a alguém. Goste das minhas piadas e incorpore-as ao seu vocabulário. Faça as suas.Goste de música. Pelo amor de Deus, goste muito de música, entenda de música e tenha bom gosto. Toque violão, guitarra, baixo, bateria, qualquer coisa. Goste de Los Hermanos, mesmo que não assuma. E goste da minha voz, principalmente quando eu cantar baixo e só pra você.Goste de me olhar. Dançando, lavando louça, lendo, bebendo, falando. Me desconcerte com esse olhar insistente. Procure as minhas mãos por debaixo de mesas e cobertores.Seja meu maior cúmplice. Ame a minha vitrola e meu carro velho, meus óculos vermelhos, meu cabelo. E goste também dos meus silêncios, ou pelo menos entenda-os.Me compre doces, respeite minha TPM, enxugue minhas raras lágrimas. Beije meus muitos sorrisos.Goste dos meus amigos mas saiba enxergar os defeitos deles. Respeite. Goste dos meus pais e de quem estiver com eles. Mas fique sempre do meu lado.Goste de mim do jeito que eu sou e do jeito que vou me tornando a cada dia. Goste de mim, com doçura, com força, com sinceridade. E só.

Texto sem título de F. Reis, que escreve no Ventura

4 comentários:

Daniela disse...

Nossa ... amei !!!!

Nivaldete disse...

Uma oração... Um jogo aberto... um tira-maldição... um estar nu com o coração exposto...

Mme. S. disse...

coisa mais linda! junção de estar e ser tudo ao mesmo tempo.

Querida, se você souber de alguém que queira adotar uma linda gatinha, por favor, me dá um toque. dá para ver a carinha linda dela no www.bichosprecisamdelar.blogspot.com
é a Dollores...

um cheiro, S.

Nivaldete disse...

Tetê, encontrei esse poema de Nelson Ascher (SP) na net e me lembrei de você:

"ELEGIAZINHA

[i. m. nikita (gata da Inês)]


Gatos não morrem de verdade:
eles apenas se reintegram
no ronronar da eternidade.

Gatos jamais morrem de fato:
suas almas saem de fininho
atrás de alguma alma de rato.

Gatos não morrem: sua fictícia
morte não passa de uma forma
mais refinada de preguiça.

Gatos não morrem: rumo a um nível
mais alto é que eles, galho a galho,
sobem numa árvore invisível.

Gatos não morrem: mais preciso
- se somem - é dizer que foram
rasgar sofás no paraíso

e dormirão lá, depois do ônus
de sete bem vividas vidas,
seus sete merecidos sonos."

FONTE:
http://poesiailimitada.blogspot.com/search/label/-%20Poesia%20brasileira

Linkei esse blog no Lápis. É excelente, tem poesia de vários países.