segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Pequeno tratado sobre minha casa


Sheyla,dizer o que dessa moça que eu adoro e escreve tudo aquilo que a gente sente e quer dizer.


Minha casa, às vezes, é tão pequena que sequer comporta minha armadura. Em outras vezes, nem mesmo casa é. Só um amontoado de livros, canções esquecidas, quadros dos outros, fotografias de paisagens, gatos dormindo, azuis de uma manhã que ainda não chegou.

Tem vez que minha casa é reconhecida pelos outros. Num olhar, numa frase, até mesmo em singelos elogios. Minha casa não espera muita coisa da rua. Porque a rua já é um outro tipo de morada, onde habitam meus crepúsculos favoritos e o perfume enigmático das nuvens e, por trás das nuvens, da escuridão.

Minha casa tem poucos espelhos. E às vezes é um universo por dentro, praticamente inabitado. A não ser pelas formigas que serpenteando estradas por entre as pareces, se dirigem aos seus escritórios e empresas subterrâneas. Sempre tão disciplinadas as formigas.


Minha casa, às vezes, é um rio onde não permito o aprisionamento de peixes, passarinhos, ou toda sorte de sutilezas que a natureza é capaz de empreender. Tenho sede só de quimeras e das chuvas de estrelas que banhavam meu olhar quando eu morava em outras casas e ainda nem sabia o significado de quimeras.

Minha casa pouco importa. O que me salva mesmo é esse nomadismo absoluto que prescinde de asas. Só de silêncio. E às vezes, de distância.

Sheyla Azevedo

Um comentário:

Mme. S. disse...

Bom demais isso, moça! Você não faz ideia do quanto me emocionam suas palavras e esse gesto de carinho seu de colocar esse pedaço de mim aqui no seu espaço de sensibilidade e beleza. Agradecer é pouco. Um beijo (mesmo que seja imprensado e no saculejo da van - risos). S.