terça-feira, 13 de outubro de 2009

Sylvia Plath


“Entrei na banheira quente, esfregando a sujeira grudada na pele e fiquei de molho sentindo o calor revigorante, eliminando as tensões e dores do meu sistema. Vivo pela metade? Ando tão cansada, após a noite passada e o monte de louça, após a panela de pressão dos detalhes dos preparativos de última hora — sempre a idéia de que poderia fazer tudo melhor, e eu poderia mesmo: deixando todos curiosos, sonho com isso, devaneio, das brumas surgem faces familiares sorridentes que me cumprimentam e trocam olhares entre si, compartilhando segredos. Uma aspirina atenuou a dor nos olhos, a dor de cabeça de fadiga. Melhore na próxima semana — amanhã, repasse dois capítulos, duas horas de discussão sobre Joyce. Estalando, ele tira o pulôver. Pele branca, cabelo preto. Esta manhã sonhei com o novo rosto, o único, parece-me, que tem lindos olhos úmidos escuros, pele levemente pálida, dourada com sombras verdes — de mãos dadas e passando pelos alunos radiantes com uma inefável doçura e euforia, e depois acordar não solitária na cama mas com o toque de meu homem, e os rostos nos nossos amantes sonhados mudam e tremulam na imagem da manhã como a face refletida num lago inquieto juntando e juntando seus fragmentos para formar uma fisionomia ligeiramente trêmula até a placidez final inevitável.”

Um comentário:

João Batista de Morais Neto disse...

o texto e a foto são magníficos. João