quarta-feira, 7 de abril de 2010

E não era mentira



E ela esperou e esperou e esperou que a chuva cessasse, que o dia amanhecesse, que o sol abrisse. No peito a paz e a guerra, o medo e o vão, o pulo e o chão, o ar e o aço, esta contradição de felicidade aterrorizada que têm sempre todos os seus começos. A noite lhe trouxe de volta o abraço dos irmãos em sonho, um avô que acenava de longe de partida para a pescaria, a voz do pai, o cheiro da casa da avó, a mãe dividindo com ela uma omelete de batata frita. E mesmo em sonho ela soube, bem lá no fundo de si, antes de qualquer coisa, antes da primeira claridade do dia, que a vida recomeçava mansa e ainda débil, recém parida. E veio a manhã, tímida e cinza, úmida e com cheiro de plantas, cheia de pássaros e sons de dia. A chuva parou e o sol irrompeu quente e grandioso e tomou a vida nova nos braços. Ela abriu os olhos e fitou a paisagem por muito tempo. Queria ter certeza de lembrar desse momento para sempre.
(Ticcia)

Um comentário:

Anônimo disse...

Ah, Tetê! Só você para encher de beleza esse mundo de falso moralismo e egos exaltados.
Apareça,
Edjane