quarta-feira, 19 de maio de 2010
Restos Inúteis
uma flor de plástico murcha
palitos de fósforo queimados
velas que não se sustentam acesas
por mais de quatro horas
livros que não suportam uma terceira leitura
um verso parnaso de pé-quebrado
(pau que nasce torto morre torto)
o quinto replay de um gol impedido
de um jogo da terceira divisão
cabides puídos por golas mal passadas
relógios parados há seis anos
pilhas fracas guardadas no criado-mudo
tempo feio num quadro encardido na parede
moinhos de ventos extintos
órfãos do fantasma de Dom Quixote
velhas lambretas estacionadas
no cemitério da infância
ratoeiras inativas
pregos enferrujados
pedaços de cera de carnaúba esquecidos
curiós empalhados
gaiolas de buriti podres
baganas abandonadas num cinzeiro quebrado qualquer
a última faixa do lado B de um vinil arranhado
que repete há 32 minutos
cacos de cotovelo apoiados em janela inútil
quem olha dali vê passar a grande marcha do nada
Celso Borges
para Marcelo Montenegro, que abriu este baú
(in Belle Epoque)
Foto: Bresson
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Um comentário:
O Nada é uma grande possibilidade.
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