sexta-feira, 27 de agosto de 2010

CAMELÔS


Abençoado seja o camelô dos brinquedos de tostão:
O que vende balõeszinhos de cor
O macaquinho que trepa no coqueiro
O cachorrinho que bate com o rabo
Os homenzinhos que jogam boxe
A perereca verde que de repente dá um pulo que engraçado
E as canetinhas-tinteiro que jamais escreverão coisa alguma.

Alegria das calçadas
Uns falam pelos cotovelos:
- “O cavalheiro chega em casa e diz: Meu filho, vai buscar
um pedaço de banana para eu acender
o charuto. Naturalmente o menino pensará: Papai está malu…”

Outros, coitados, têm a língua atada. Todos porém sabem mexer nos cordéis com o tino ingênuo de demiurgos de
inutilidades.
E ensinam no tumulto das ruas os mitos heróicos da meninice…
E dão aos homens que passam preocupados ou tristes uma lição de infância.

*

Manuel Bandeira. De Libertinagem (1930).

Um comentário:

Borges disse...

Junto com Mário Quintana, é o maior poeta. Abç