sábado, 5 de junho de 2010

louva-deus


entre as hastes da persiana cor-de-gelo
se alojou um louva-deus de um verde
tão tenro de esperança
que comove

sobrevoa vez em quando a cama e o micro
e pousa displicente na colcha do beliche
por sobre e dentre os livros
de poesia

está aqui há quatro dias

e eu me pergunto o que quer o que pretende
um louva-deus no seu verde tão tenro de
esperança que comove
neste quarto

cor-de-gelo como a cor da persiana onde já
ninguém habitualmente habita além do
micro e da tevê e
do beliche

onde a sono solto hibernam as lembranças
meio a versos dentre os livros esquecidos
e outros mais a
escrever

estão aqui há quatro anos

e agora enquanto a madrugada se desfia
em guns n' roses cantando bob dylan
se revestem de esperança
e enverdecem

como fosse possível transmutar-se o gelo
da persiana e das paredes mais o velho
vermelho do beliche
pelo vôo

entontecido de algum simples louva-deus



Márcia Maia

Um comentário:

Borges disse...

Lembrei de Flink... Eu também vivo preso aos cachorros. Bjs de jerimuns alaranjados.