sexta-feira, 20 de novembro de 2009
ASILO SANTA LEOPOLDINA
Todos os dias volto a Maceió.
Chego nos navios desaparecidos, nos trens sedentos, nos aviões cegos/
Que só aterrizam ao anoitecer.
Nos coretos das praças brancas passeiam caranguejos.
Entre as pedras das ruas escorrem rios de açúcar
Fluindo docemente dos sacos armazenados nos trapiches
e clareiam o sangue velho dos assassinados.
Assim que desembarco tomo o caminho do hospício.
Na cidade em que meus ancestrais repousam em cemitérios marinhos
só os loucos de minha infância continuam vivos e à minha espera.
Todos me reconhecem e me saúdam com grunhidos
e gestos obscenos ou espalhafatosos.
Perto, no quartel, a corneta que chia
Separa o pôr-do-sol da noite estrelada.
Os loucos langorosos dançam e cantam entre as grades.
Aleluia! Aleluia! Além da piedade
a ordem do mundo fulge como uma espada.
E o vento do mar oceano enche os meus olhos de lágrimas.
LEDO IVO
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3 comentários:
Belo poema. João
Muito bom. Difícil falar dessas coisas sem tornar o texto uma mera sociologia... Diz-me: qual o endereço daquele blog onde há o vídeo sobre G. Otelo?... Vi mas não guardei... abç
Detinha veja o link do blog:
http://www.botequimdobruno.blogspot.com/
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