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Há muito tempo que deixei de fazer planos nesta época do ano. Basicamente por acreditar que cada plano se convertia em uma expectativa que eu jogava sobre minhas costas – e a chance de me curvar diante de tanto peso sobre os ombros era gigantesca. Resolvi facilitar as coisas para mim mesmo e relaxei. O que terá de vir, acredito, virá. E o que não era para ser meu, que encontre boa acolhida em mãos alheias. Não há nada de elevação espiritual nesta atitude, é só praticidade mesmo. Fui percebendo, ao longo dos anos, que o acaso sempre falou mais alto que meus planos e que grande parte daquilo que conquistei partiu de convites, associações com amigos e mesmo de ideias alheias – que nada mais são do que outros nomes para o acaso.
Eu me recordo com muita clareza do momento em que resolvi pensar assim. Era noite de 31 de dezembro (que óbvio!) e eu estava na Praia de Jabaquara, em Paraty, uma prainha que mais parece uma lagoa de água quente. Ou, como disse um amigo que estava comigo, uma banheira sem ondas e cheia de xixi. Não importa. Faltavam alguns minutos para a meia-noite e eu podia observar a concentração das milhares de pessoas na areia, acendendo velas, professando desejos silenciosos, rezando talvez. E minha cabeça estava completamente vazia. Não conseguia desejar nada, não conseguia pensar em nada concreto para o ano que teria início dali a poucos instantes, não imaginava como seriam meu trabalho, minha saúde, minhas aspirações. Nadinha. A mente estava estranhamente pacificada e vazia. Era como se eu estivesse num restaurante de comida exótica e cardápio ilegível: não adiantava escolher, tudo que me fosse servido seria estranho e arriscado. Mas poderia ser prazeroso também. Era um jogo. O jogo de estar vivo.
Mas, como a atmosfera do local parecia exigir um desejo urgente para o ano novo, fiz o meu. E é o que eu repito até hoje, esteja eu nos últimos dias de dezembro, como agora, ou numa segunda quinzena de um julho qualquer: que eu saiba dar boas-vindas a tudo de novo que chegar na minha vida e que saiba, acima de tudo, dizer adeus ao que está indo embora. Pode parecer bobinho, mas talvez seja um aprendizado que exija uma vida toda – a certeza de que a permanência não existe e que tudo está mudando. Nem sempre para melhor. Mas nem sempre para pior também. E, entre o que chega e o que vai, que eu tenha o bom senso de ser caloroso e hospitaleiro com aquilo que realmente se anuncia como bacana, e que reserve a minha saudade sincera para os grandes afetos que eu não souber, ou não puder, conservar ao meu lado.
Porque um ano novo, um mês novo, um dia novo e talvez até uma hora nova não passam exatamente disso: de uma contabilidade em que ganhamos aqui e perdemos ali. E a esperança, neste jogo, talvez seja a torcida para que o placar penda a nosso favor. Embora eu acredite que o que vale mesmo é a partida. Assim, já que não temos outra alternativa mesmo, que venha o apito de 2010, então.
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Um comentário:
Essa chegada é uma partida: "então que apitem 2010".
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