terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Para Mário e Tetê


Esse carinhoso texto a mim dedicado Carlão publicou no excelente blog "SUBSTANTIVO PLURAL" de Tácito Costa.Não poderia ficar de fora do meu blog,transcrevo abaixo.


Estiveram aqui na minha casa no sábado, Tetê e Eduardinho, duas pessoas do mais alto calibre. Era para ser uma comemoração para ninguém sabe o quê, mas acabou sendo uma celebração pela recuperação do dramaturgo Mário Bertolotto. Acho que todo mundo já sabe que Bortolotto tentou defender uma amiga de um assaltante num bar em São Paulo e levou quatro tiros na semana passada. Mas ele está bem. Minha mulher agora não pára de dizer, Carlão, pelo amor de Deus, você faria o mesmo. E eu digo, não meu bem, não faria, só se fosse necessário. Só conheço Mário do que li nos jornais sobre as peças que ele escreveu, mas gostaria de saber mais. Ele é dos meus, não é um covarde como a maioria dos caras que conheci aqui em Natal. Tetê é minha amiga das antigas e a gente nunca se confundiu nos meandros das ideologias. O fato é que ela chegou e foi logo tomando conta do som da casa. Pegou seus discos na bolsa e disse, Carlão, deixa comigo. E tascou Waldick Soriano. Porra! (note que aqui eu me solto para falar palavrão). Waldick faz parte de minha vida desde que eu passava minhas férias no Vale do Açu. Minha mãe tem a base de sua família toda lá onde eu conheci um cara grosso feito papel de prego, chamado João Bolha. Ele só gostava de duas coisas na vida: mulher e caça. Não, ele gostava de outra coisa. Ficar embriagado ouvindo Waldick Soriano. Foi esse cara que um dia chegou comigo numa bodega, digna daquelas descritas por João Rosa, e disse, bote um cinzano para esse menino. Aí ele pediu ao dono do estabelecimento para colocar a música que adorava. Então eu ouvi, “minha querida, saudações…”. Na hora detestei. Mas depois descobri que ali havia um Brasil que ainda não compreendi direito. “Escrevo esta carta…”. É uma canção chorosa, com arranjo totalmente mexicano. Nunca o Brasil foi tão mexicano. Bolero, meus amigos. Mas é lindo, percebo agora. E enjoativo como qualquer bebida doce. Quando eu pensava que estava tudo resolvido, vi o documentário de Patrícia Pillar sobre Waldick Soriano. Eis aqui a história de um legítimo filho do Brasil. Mas, diferente do outro, um filho que não deu certo. Um homem pobre, que saiu do nada e ganhou a vida perdendo tudo, mulheres, filhos, e nunca a dignidade. Escolheu a boemia, a solidão. Patrícia Pillar mostra tudo, sem afetação, sem medo. É o cara que ela costumava ouvir no rádio ao lado do pai. O momento que eu mais gosto é quando ele diz no total ostracismo, “eu não sou brega, sou poeta”. Tetê me deu o disco de presente e agora escuto sempre que quero me lembrar daqueles tempos. Quando a gente envelhece aos poucos, e aceita, o passado não dói tanto. João Bolha foi para o Rio de Janeiro e virou um careta. Acho que ele ainda adora Waldick.
Carlos de Souza.

2 comentários:

Borges disse...

O Brasil é feito de Waldick Soriano... Ouvia suas músicas em difusora de circo e nas portas de cinema de interior. O texto é bom.

Borges disse...

...E ainda mais que a MPB se mantinha de pé por causa desses artistas populares. "Eu não sou cachorro não..." Bateu de frente até com a ditadura. Abç