terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Canção


O peso do mundo
é o amor.
Sob o fardo
da solidão,
sob o fardo
da insatisfação

o peso
o peso que carregamos
é o amor.

Quem poderia negá-lo?
Em sonhos
nos toca
o corpo,
em pensamentos
constrói
um milagre,
na imaginação
aflige-se
até tornar-se
humano —

sai para fora do coração
ardendo de pureza —
pois o fardo da vida
é o amor,

mas nós carregamos o peso
cansados
e assim temos que descansar
nos braços do amor
finalmente
temos que descansar nos braços
do amor.

Nenhum descanso
sem amor,
nenhum sono
sem sonhos
de amor —
esteja eu louco ou frio,
obcecado por anjos
ou por máquinas,
o último desejo
é o amor
— não pode ser amargo
não pode ser negado
não pode ser contido
quando negado:

o peso é demasiado

— deve dar-se
sem nada de volta
assim como o pensamento
é dado
na solidão
em toda a excelência
do seu excesso.

Os corpos quentes
brilham juntos
na escuridão,
a mão se move
para o centro da carne,
a pele treme na felicidade
e a alma sobe
feliz até o olho —

sim, sim,
é isso o que
eu queria,
eu sempre quis,
eu sempre quis
voltar ao corpo
em que nasci.

Allen Ginsberg

Um comentário:

João Batista de Morais Neto disse...

Esse poema de Ginsberg é muito bonito. É um dos que eu mais gosto. Adoraria tamabém publicá-lo no meu blog. João