terça-feira, 28 de abril de 2009

Nivaldete Ferreira


Deta fez um texto lindo e poético sobre a pedra que tínhamos como um monumento lá em Nova Palmeira e fez parte da nossa infância e adolescência.Pois é, essa pedra faz parte da minha geografia sentimental.Em homenagem a ela e a nossa nostalgia transcrevo o texto aqui no meu blog:Em Nova Palmeira-PB, quando as pessoas queriam contar alguma coisa do seu tempo de criança, diziam "no tempo d´eu menino/a...".Pois bem, no tempo d´eu menina, havia , em uma das entradas daquela rua-cidade onde nasci, uma pedra numa forma que lembrava uma vaca deitada. Perto dela, outra menor, que devia ser o bezerro e servia de escada para se chegar ao lombo da mãe. A gente brincava lá, todos os dias. Batia pedacinhos de tijolo nas barrocas lisas que foram se formando, como pilõezinhos, ao longo dos anos. Isso era bater tempero pra uma comida imaginária. Mas como nutria!Era uma mistura de pedra, vaca e avó. Porque avó deixa tudo, quase tudo. Aquela pedra-vaca-e avó deixava. A gente subia, batia tempero, descia, subia... E às vezes vinha alguém contar uma história. Ouvi esta, de Antônio Bezerra, tio de minha mãe:-Essa menina, houve um homem chamado Camonge, que era muito inteligente. Tão inteligente que adivinhava. Um dia, um amigo quis provar que era capaz de enganá-lo. Então levantou essa pedra aqui, colocou uma folha de papel-de-embrulho embaixo, recolocou a pedra. Quando Camonge chegou e se sentou nela, o amigo perguntou: "Não sente nehuma diferença nessa pedra?". Camonge fez "hummm... Sinto, sim. Uma diferença muito, muito pequena: da finura de uma folha de papel-de-embrulho." O tio acabou de contar e saiu rindo... E eu acreditei piamente. Até hoje acredito.Difícil foi acreditar no que disseram, um dia, quando eu, já moça e penteando distraidamente os cabelos, escutei uma chuva de pedrinhas em cima das telhas de casa.-Mas o que é isso???-Dinamitaram a pedra... Vão fazer o prédio da prefeitura ali.Não, não, protestei em silêncio, a mão suspensa, segurando o pente. Fiquei silenciosa por horas e horas. Sequer pude chorar. Era uma dor assim, seca.E ainda escutei a queda das últimas pedrinhas. Parecia uma despedida, um choro de quem, sendo pedra, não tinha um coração de pedra, como aqueles que a dinamitaram, sem mais nem menos. E não pude, ninguém pode fazer nada... Para muitos, foi uma festa. Pra mim, um luto que carrego até hoje. Um luto meio branco, da cor dela, da pedra. Afinal, não se tratava de uma pedra qualquer. Não era um mero aglomerado de calcário. Nem era "a minha pedra". Coisas assim não são de ninguém, são da vida.Era uma pedra vaca-e-avó.Guardava nossos segredos, nossas fantasias.Tinha alma.Tinha corpo.Deve ter doído nos nervos do Universo...Ah, o progresso... Ele tem lá suas medonhezas...

4 comentários:

Nivaldete disse...

rande T T, parabéns pelo blog. Está muito simpático (até a cor...). E muitíssimo obrigada pela homenagem... Fico feliz por esse texto ter tocado você... A pedra não era nossa, era da (nossa) vida... Sucesso com o blog! Passarei sempre por aqui.

Nivaldete disse...

Corrigindo: Grande T T...

tete bezerra disse...

Valeu Detinha,é só o começo,ainda vou postar muita coisa bonitas que vc escreve!!!

Anônimo disse...

Por que nao:)