ESTRADA BRANCA
pensando em Luzia Mercês do Amaral (in memorian),
a Fátima Bezerra, aniversário de 2009
Luzia vestida de senhora:
rudes ferramentas de parteira,
cabelos alvos de aurora.
Desertava-se pelos caminhos
azuis da madrugada,
cruzando chãos conhecidos.
Restos de lua descambavam
sinalizando sítio e trajetória,
clareando estrada deserta.
Escuro chão de veredas,
claro solitário de cachimbo:
tocha acesa de vaga-lume.
Menino vida estreia:
bule de água fervente,
banho inaugural em tigela.
Parto sem anestesia
filho-flor desabrochando,
quarto aceso de manhã.
Casa de poucos troços:
lamparina, rede branca,
jarro de flores sintéticas.
Rede-fôrma modelando
crânio infantil: estética
fonte de apelido: esférica.
Camarinha de aleitamento,
rezas e projetos maternos,
legado de vestes de tricô.
Região povoada por comadres:
em domingo de feira, conversa
com legião de conhecidos.
pensando em Luzia Mercês do Amaral (in memorian),
a Fátima Bezerra, aniversário de 2009
Luzia vestida de senhora:
rudes ferramentas de parteira,
cabelos alvos de aurora.
Desertava-se pelos caminhos
azuis da madrugada,
cruzando chãos conhecidos.
Restos de lua descambavam
sinalizando sítio e trajetória,
clareando estrada deserta.
Escuro chão de veredas,
claro solitário de cachimbo:
tocha acesa de vaga-lume.
Menino vida estreia:
bule de água fervente,
banho inaugural em tigela.
Parto sem anestesia
filho-flor desabrochando,
quarto aceso de manhã.
Casa de poucos troços:
lamparina, rede branca,
jarro de flores sintéticas.
Rede-fôrma modelando
crânio infantil: estética
fonte de apelido: esférica.
Camarinha de aleitamento,
rezas e projetos maternos,
legado de vestes de tricô.
Região povoada por comadres:
em domingo de feira, conversa
com legião de conhecidos.
11 comentários:
Bonito!... "casa de poucos troços"...
tetê, naldinho é um dos meus poetas preferidos. JOão
Hoje acordei Greta Garbo de solidão, mas vendo minha poesia comentada por Nivaldete e João, me pus a sorrir, a escrever, a acreditar. Ameusamigos foi bem bolado.
Hoje acordei Greta Garbo de solidão, mas vendo minha poesia comentada por Nivaldete e João, me pus a sorrir, a escrever, a acreditar. Ameusamigos foi bem bolado.
Trapézio da madrugada
Galos no poleiro azul
da madrugada celebram
a vida em terceira dimensão:
procuram luas e cometas.
No trapézio da madrugada
eles beliscam estrelas:
céu-ouro-chão matinal
colheita imaginária,festa.
Galos da cor de palhaços
em luzes acesas de circo:
na corda-bamba do espaço
aurora boreal avistam.
Eles cantam na hipinose
dessas veredas celestes,
esquecem os carrascos
conhecidos e suas foices.
Trapézio da madrugada
Galos no poleiro azul
da madrugada celebram
a vida em terceira dimensão
procurando luas e cometas.
No trapézio da madrugada
eles beliscam estrelas:
céu-ouro-chão matinal
colheita imaginária, festa.
Galos da cor de palhaços
em luzes acesas de circo:
na corda-bamba do espaço
aurora boreal avistam.
Eles cantam na hipnose
dessas veredas celestes,
esquecendo os carrascos
conhecidos e suas foices.
Além dos galos, o poema foi escrito em terceira dimensão: cosmonautas, desprendimento à morte. "Eles cantam na hipnose / dessas veredas celestes, / beliscam estrelas: / céu-ouro-chão-matinal...
Ruim do rim
Minha avó amanhecia insatisfeita: “hoje tô rim, rim chamada rim”...
- Ruim, doente do rim, vó?
- Não, tô rim da cabeça, macacoa. E emendava nas queixas: “bêba, bêba(da)”. E ia-se: mãos nas paredes, pela casa-labirinto. Longa viuvez.
Era tontice, zoada nos ouvidos, se instalando na idade. Diagnóstico de hoje: labirintite.
- Menino traga um café forte (torrado com rapadura, em tigela de barro). O cachimbo tá na meia parede, o fumo na lata.
Começava a tirar a cera-resíduo de nicotina.
- Oxente, pra ficar mais tonta? “É meu divertimento”: pafo, pafo, pafo...
E assim foi até cair doente. Esqueceu de tudo e todos, mas pedia o cachimbo intuitivo, às vezes negado.
Manhã me trazendo da cidade: entreguei-lhe flores brancas, de cheiro marcante e logo se lembrou do pé Bugari.
Lendo Clarice Lispector: "quando eu morrer então nunca terei nascido e vivido. A morte apaga os traços de espuma do mar na praia.. Eu sou a minha própria morte. Quando não escrevo acho que estou morta.” - dizia. A morte ninguém a imagina bela, porque só mal lhe traduz.Os homens são presos que aguardam sentenças num planeta que parece penitenciária agrícola, onde fazeres, costumes e cultura, fazem a vida superar a expectativa da morte. É tanto que a cada dia tentamos arrumar nossas idéias, compensar nossas perdas, consertar o cotidiano, organizar a sociedade, ajuntar nossas coisas, multiplicar nossos bens, sempre pensando no futuro, como se tudo fosse nos acompanhar no dia em que não precisarmos mais de nada.
Pouco sei sobre esse que escreve, mas estou diante de um bom escritor. Esses traços introspectivos têm característica de Clarice.
Dos galos à Clarice, esse poeta escreve bonito, parabéns!
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