sábado, 27 de junho de 2009

O ciúme (Guilherme de Almeida)


Minha melhor lembrança é esse instante no qual

Pela primeira vez me entrou pela retina

Tua silhueta provocante e fina

Como um punhal.

Depois, passaste a ser unicamente aquela

Que a gente se habitua a achar apenas bela

E que é quase banal.

E agora que te tenho em minhas mãos e sei

Que os teus nervos se enfeixam todos em meus dedos

Que os teus sentidos são cinco brinquedos

Com que brinquei;

Agora que não mais me és inédita, agora

Que compreendo que tal como te vira outrora

Nunca mais te verei;

Agora que de ti, por muito que me dês,

Já não podes dar a impressão que me deste,

A primeira impressão que me fizeste,

Louco, talvez,

Tenho ciúme de quem não te conhece ainda

E, cedo ou tarde, te verá, pálida e linda pela

Primeira vez.

Um comentário:

Giankagestar disse...

Adorei o texto de Guilherme Almeida, não o conhecia.
Como prometi, estou enviando umas linhas minhas, estou devendo...


LÂNGUIDA
Natal, 09/07/03.

Teu corpo nada tinha de interessante
Mas a sua presença me invadia noite a fora
Colado ao meu.
Entre lençóis e cheiros...
E eu o desfrutei
Entraste pela minha janela
Espaço aberto a me torturar
Tudo em silêncio...
Como em silêncio permanecemos
Diante do que nos sucumbe
E no embaraço desse momento
Senti o teu olhar a me desnudar
Desnudando-o eu também.

E quando te tive
Passaste como passamos todos nós...
Mas ainda ficou teu toque
Esse frio que escorre lânguido pela espinha
O gosto não sentido
Algumas palavras não ditas
Um desejo repentino
E um acre sabor na boca.
Gianka.